terça-feira, 5 de abril de 2016

Via Láctea




Via Láctea (Olavo Bilac)

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…
E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”

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Há algo de terno
Nos ombros do passado
Que fica a me olhar
Como quem vai se despedindo.

E pelos trilhos do presente
Corre o seu orvalho
Que teima em arrancar
Saudades de quem amou.

Bate-me o passado
Feito um poema de Drummond
E me compele a voltar
Ao lugar que me pariu.

Lílian Terra

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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Resposta ao tempo



Batidas na porta da frente, é o tempo.
Eu bebo um pouquinho pra ter argumento.

Mas fico sem jeito, calado, ele ri
ele zomba do quanto eu chorei
porque sabe passar, e eu não sei.

Num dia azul de verão sinto o vento...
Há folhas no meu coração,
é o tempo.

Recordo um amor que perdi, ele ri,
Diz que somos iguais, se eu notei
Pois não sabe ficar e eu também não sei.

E gira em volta de mim,
sussurra que apaga os caminhos,
Que amores terminam no escuro, sozinhos.

Respondo que ele aprisiona,
eu liberto.
Que ele adormece as paixões,
eu desperto.

E o tempo se rói com inveja de mim,
me vigia querendo aprender
como eu morro de amor pra tentar reviver.

No fundo é uma eterna criança
que não soube amadurecer.
Eu posso, ele não vai poder
me esquecer.


Compositor: Aldir Blanc/Cristóvão Buarque
Intérprete: Nana Caymmi

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Carta à poesia


Imagem: autor desconhecido
Poesia, por onde você andava
enquanto eu, ao invés de andar, corria?

Entre os passos apressados do meu dia-a-dia,
estaria você me observando em alguma esquina?

Eu havia me esquecido que às vezes
é preciso parar o tempo,
tirar os sapatos,
e não pensar em nada,
só para ouvir
o que o silêncio nos diz.

E me lembrei de um tempo
em que andávamos de mãos dadas,
sem pressa,
e você me permitia tirar as vestes 
e ser eu mesma,
alma e coração
a chorar no teu colo.

Lílian Terra

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