domingo, 28 de setembro de 2014

Consolo na praia

Foto: Andrey Belkov

"Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento…
Dorme, meu filho."


Carlos Drummond de Andrade

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quinta-feira, 19 de junho de 2014

A poesia... veja!

Imagem: Vanessa Paxton

Pra lá dessas distâncias
eu encontro um refugio pro meu coração errante.
Pra seguir errando, e amando mais,
e entregando tudo de mim àquilo que me inquieta
e me desperta para a poesia que não morreu.

A poesia  ainda vive em meio a tanto cansaço,
entre dores e rancores, 
a poesia se sacode e desabrocha
cresce, brota,
desamarrota e põe a alma no lugar.

A poesia canta, dança,
balança, levanta,
encanta,
muda o mundo
e o como ele é visto.

Me visto de poesia 
e abraço a minha visão.

Lílian Terra

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quarta-feira, 2 de abril de 2014

Almas Perfumadas

Imagem: Gustav Klimt

"Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. De sol quando acorda. De flor quando ri. Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda. Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete. Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.

Tem gente que tem cheiro de colo de Deus. De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul. Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo. Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso. Ao lado delas,pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.

Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra. Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza. Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria. Recebendo um buquê de carinhos. Abraçando um filhote de urso panda. Tocando com os olhos os olhos da paz. Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.

Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa. Do brinquedo que a gente não largava. Do acalanto que o silêncio canta. De passeio no jardim. Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo. Corre em outras veias. Pulsa em outro lugar. Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus está dançando conosco de rostinho colado. E a gente ri grande que nem menino arteiro."

Ana Cláudia Saldanha Jácomo

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sábado, 29 de março de 2014


E a ânsia que não cabe mais no peito
grita a toda criatura que ouve,
que não há tempo, não há distância,
e não há saudade que impeça
o amor de germinar. 

Lílian Terra

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domingo, 2 de fevereiro de 2014

Soneto para Ninguém

Te quero sereno,
para que teu semblante seja a luz do meu dia.
E quando chegar a noite,
que teu braço seja minha calmaria.

Quero tua boca pálida
e teu riso solto.
Tua boca e riso
correndo pelo meu corpo liso.

Quero ser teu céu azul
após dias cinzentos
e o calor em teus eternos invernos.

Quero cravejar em tua pele meu desejo,
te acordando para a vida que anuncia,
nos convencendo de que ainda é bela.

Lílian Terra

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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014


Paro.
Penso.
Traço.
Descrevo-me em versos
E não consigo mais me ler.

Lílian Terra

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quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Foto: Nicola Tramarin

As linhas de expressão da minha fronte,
São como leitos de rios imaginários,

Outrora levavam amores aos montes,
Hoje áridas só retratam meu calvário,

São como talhos do tempo no meu viso,
Esculpindo na minha face um calendário,

Segue seco o rio da minha vida...
Para a morte que será meu estuário.

Ullisses Salles

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