sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A visita

"[...]
Dissolvem-se paredes, a mobília 
não tem forma ou sentido, nada existe
além de um ritmo a girogirar autônomo
no traço de si mesmo, e regulando
o movimento íntimo do ser,
não de um ser, não de outro, o ser geral,
concentrado na essência das palavras.
É belo, de um tristeza sem andaimes,
e dói e sangra e rejubila
e faz subir aos olhos invisíveis
orvalho represado. Ah, por tantos anos
as cadências dormiram no seu peito,
na gaveta, entre contas de armazém,
envelopes, isqueiro, canivete!
E, de repente, luz. A luz envolve-as todas.
Transpassa-as.
O som dolorido, o som guaiante, o som de harpa davídica
e violino trêmulo, desata-se.
O verso concentrado em tantos versos.
Nunca ninguém os disse assim, com esse metal
de sentimento modulado.
O poeta vê sua poesia. Vê, fisicamente vista,
entre real, sonoro, musical,
habitante de brancos universos,
corpo quase, muito mais que corpo,
visão,
sol meio-dia absorvendo
todos os crepúsculos
e a opala da noite em estilhaços.
[...]"

Drummond  (Do livro "A paixão medida" - 1981)

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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Foto: Billy Plummer

Eu conheço a dor da solidão.
Eu sei o que é ter alguém ao seu lado e se sentir abandonada.
Eu passei noites sem dormir,
eu chorei até sentir meus olhos queimarem
e vi escapar dos meus braços o amor que julguei ser eterno.
Eu desejei ser uma pedra: firme, fria e forte.
Sem saudade, sem lágrimas, sem paixão...
Mas me vi cercada pelos muros do amor
e entendi que mesmo que com ele venha a dor,
definitivamente é impossível escapar.

Lílian Terra

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domingo, 9 de dezembro de 2012

Eu já sabia das lágrimas que iriam correr,
da dor que iria me torturar
e da angústia, 
velha conhecida que viria me visitar.
Mas eu fui. Eu me atrevi.
Quis provar mais uma vez do teu sabor
e acho que iria outra vez 
se o teu amor me chamasse.
E outra. E outra. 
Só pra ter o gosto 
dessa lembrança em minha mente,
ainda que a solidão 
fique depois em seu lugar.

Lílian Terra

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