domingo, 29 de dezembro de 2013


"E, quando lá me achava a meditar sobre o velho, desconhecido mundo, lembrei-me da surpresa de Gatsby, ao divisar pela primeira vez, a luz verde e existente na extremidade do ancoradouro de Daisy. Ele viera de longe, até aquele relvado azul, e seu sonho de ter-lhe parecido tão próximo, que dificilmente poderia deixar de alcança-lo. Não sabia que seu sonho já havia ficado para trás, perdido em algum lugar, na vasta obscuridade que se estendia para além da cidade, onde as escuras campinas da república se estendiam sob a noite. Gatsby acreditou na luz verde, no orgiástico futuro, que ano após ano, se afastava de nós. Esse futuro nos iludira, mas não importava: amanhã correremos mais depressa, estenderemos mais os braços… E, uma bela manhã… E assim prosseguimos, botes contra a corrente, impelidos incessantemente para o passado."


O Grande Gatsby - F. Scott Fitzgerald


-

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Poema para o vento

Não posso falar do vento,
porque não o conheço.

Nunca me deitei com ele 
num gramado
em uma tarde sem pressa.

Nunca o vi tirar 
meus cabelos dos olhos,
ou secar minhas lágrimas 
com seu sopro macio.

Nunca parei para 
ouvi-lo cantar em meus ouvidos,
ou corri para senti-lo mais forte.

Eu me esqueço dessas sensações 
que o vento traz.
E as pessoas também.
Jamais alguém parou para pensar no vento
ou lhe dedicou um poema.

E eu, que nem o conheço,
me ponho a pensá-lo, 
e desejá-lo sobre a minha pele nua.

Eu, que não conheço o vento,
sinto falta do seu carinho.

Lílian Terra

-

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Eu, para quê?

Imagem: autor desconhecido
Meus cacos eu deixo no chão.
Não me importo que fiquem ali,
estirados, 
cortando meu coração.

Meus pedaços,
depois eu cato.
Não me faço
muita questão.

Eu, que me importa eu,
ou qualquer pedaço 
arrancado de mim?

Eu, que sou o outro.
Eu, espelho do que
me projetaram?

Eu não me importo comigo
se tenho um amigo.
Se tenho um amor,
se tenho um abrigo.

Eu, que me importa eu,
se existe Deus?
Se existe sol 
e existe céu,
e às vezes chove?
E se de noite lua,
e se a minha rua
é do tamanho do mundo todo?

Eu, para quê?
Para que eu,
seja eu quem for?

Lílian Terra

-

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013


"Os sentimento que mais doem, as emoções que mais pungem, são os que são absurdos - a ânsia de coisas impossíveis, precisamente porque são impossíveis, a saudade do que nunca houve, o desejo do que poderia ter sido, a mágoa de não ser outro, a insatisfação da existência do mundo."

Fernando Pessoa - Livro do Desassossego

-

Páginas