sexta-feira, 30 de março de 2012

Foto: Al Durer

"Meu Deus, me dá cinco anos, me dá a mão, me cura de ser grande..."

Adélia Prado

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quinta-feira, 29 de março de 2012

Consolo na Praia

"Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento…
Dorme, meu filho."

Carlos Drummond de Andrade
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sexta-feira, 23 de março de 2012

"Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho."

Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)

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Os extremos me atraem.

Me ame intensamente, ou me odeie na mesma medida.
Não quero ser irrelevante na vida de alguém.
A indiferença fere mais que sentimentos
externados de uma raiva incompreendida;
pois o ódio nada mais é que uma variação do amor.
Me ame da forma que te ordenarem os sentidos:
me faça penetrar na mais profunda dor;
ou me leve ao êxtase de uma alegria incomensurável...
Só não me ignore.
Por favor, não me deixe ser ninguém na sua vida.

Lílian Terra

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quarta-feira, 21 de março de 2012

Meu coração que você (sem pensar) hora de brinca de inflar, hora esmaga.

Tenho mais fases que a lua, mas meu coração é um só.
Então fico pensando:
Como é possível, nesse coração tão pequeno,
caberem tantas pessoas?
Há aquelas cuja simples lembrança me faz sorrir.
Outras, que me causaram tanta dor, 
e nem assim meu coração conseguiu expulsá-las.
Há também aquelas 
que a simples consciência de que existem, 
me deixa segura.
E por fim, aquela que ocupou tanto espaço
que não coube no meu coração,
se alastrou pelas minhas veias
e deixou meu ser assim,
carregado da sua existência.

Lílian Terra

Título: Chico Buarque 

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Nossa existência
Autor: Jorge "punk" Roberto
"Seu olhar, apenas mais um entre infinitos outros olhares
Que perdidos contemplam a vastidão caótica do espaço temporal.
São visões tétricas, são visões gélidas, são visões nebulosas confinadas num vazio que se faz presente, de um vazio que preenche a ausência de seres de aparências lúgubres.
Multidões, pessoas que vão, multidões, pessoas se vão, multidões, pessoas que não chegam, multidões eternamente caminhando em círculo sobre a grande esfera em frenéticos passos.
Todos atônitos, todos anônimos, estranhos.
Sempre buscando algo de pura abstração, onde as luzes na penumbra, sem profundidade não alcançam a transparecência da origem da lucidez existencial.
Seu céu, seu inferno.
O equilíbrio, a harmonia, continuam obscuros, dispersos dentro da própria matéria, tão perto assim.
Ignota é a realidade da intolerância que faz moldar a imbecilidade do ódio pré fabricado em paraísos contraditórios, conflitantes de colonizados conformistas de ideias germinadas, lobotomizadas na continuidade de não consciência em percurso da inutilidade humana, jogada ao precipício.
É real a verdade cruel que nós, nós nada somos, apenas estamos num momento efêmero, apenas num espaço insignificante, apenas num tempo que urge.
Somos indigentes transitórios, vagabundos errantes
Amanhã já não mais estaremos.
Nascimento e morte.
extremos de uma mesma coisa, vã existência."

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domingo, 18 de março de 2012

Quantas horas mais vão bater até você chegar?


Então ela o abraçou. E o apertou tão forte, 
como se quisesse segurar o tempo. 
Como se na pele dele 
estivesse a cura para todas as suas dores, 
e no seu ombro, o repouso para suas mágoas. 
Mas ela sabia que aquilo iria acabar, 
pois o tempo não é amigo dos apaixonados. 
E sentiria seu perfume, 
mesmo depois que ele partisse.
Lílian Terra
Título: Marcelo Camelo
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sábado, 17 de março de 2012

 
"Enquanto juntava os restos, 
catava os cacos como um flagelo, você chegou.
Enquanto trancava as portas do casarão, 
meu coração você entrou.
Enquanto me atormentava pensando em guerras, 
por outras terras você me levou.
Enquanto morria a tarde você surgia, 
estrela guia, me iluminou.
Quando te quis foi tão claro que nem percebi, 
fiquei ali e ainda estou.
Tudo era seca e queimada por dentro de mim, 
como jasmim por sobre a mágoa você brotou.
Anjo de luz, filha de Iansã, 
rompe essa treva, me leva pra outra manhã."

Vander Lee - Outra manhã

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sexta-feira, 16 de março de 2012

Nas coisas simples estão os melhores prazeres.

 
"Prefiro as máquinas que servem para não funcionar: quando cheias de areia, de formiga e musgo - elas podem um dia milagrar de flores. 
Também as latrinas apropriadas ao abandono me religam a Deus. 
Senhor, eu tenho orgulho do imprestável."
Manoel de Barros - Livro sobre nada
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segunda-feira, 12 de março de 2012

O amor sempre nos dá outra chance.

E depois de tudo você pensa que não vai se apaixonar outra vez,
que jamais sentirá aquilo de novo
e que ninguém neste mundo será capaz de substituí-lo...
É quando você se distrai
e sorri feito boba quando vê que o amor está de volta em sua vida.
E não importa o quanto você se decepcionou,
ou quantas lágrimas escorreram pelo seu rosto;
quando chegar o momento ele simplesmente virá.
E não há nada que você possa fazer para impedí-lo.

Lílian Terra

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Pensar é não compreender.

"Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar..."

Fernando Pessoa

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sábado, 10 de março de 2012

Foto: Alexs Toddard
O que eu procuro não tem cor, não tem forma, não tem número de série. Nem nome tem.
O que eu procuro está além do que os olhos podem enxergar, e onde meus braços não podem alcançar. 
O que eu procuro, nem ao menos sei dizer. 
Mas saberei reconhecê-lo no momento exato em que o encontrar. 
Como o príncipe que encontra  a dona do sapato perdido.

Lílian S. Terra

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"Tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! 
Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, 
e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, 
como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; 
sentia um acréscimo de estima por si mesma, 
e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, 
onde cada hora tinha o seu encanto diferente, 
cada passo conduzia a um êxtase, 
e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!"

  Eça de Queiroz - Primo Basílio (1878)

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sexta-feira, 9 de março de 2012

O passado é uma roupa que não nos serve mais.


É próprio do ser humano cometer erros.
 Eles nos fazem criar defesas, nos tornam mais fortes. 
Mas aquele peso fica remoendo na memória, nos tira o sono, dá náusea, uma dor no fundo da gente e uma vontade desesperada de voltar atrás e fazer diferente.
Lílian Terra
Título: Belchior

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Quadrilha

"João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história"

C. Drummond
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terça-feira, 6 de março de 2012


Foto: Véronique Coutié
"Te comparar com um dia de verão? 
Tú és mais temperada e adorável. 
Vento balança em maio a flor-botão 
e o império do verão não é durável. 
Mas teu verão nunca se apagará. 
Perdendo a posse da beleza tua 
nem a morte rirá por te ofuscar
se em versos imortais te perpetuas."

Shakespeare

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domingo, 4 de março de 2012

Foto: Denis Collette
"Há de haver algum lugar, um confuso casarão 
Onde os sonhos serão reais, e a vida não... 
 Por ali reinaria meu bem; com seus risos, seus ais, sua tez
E uma cama onde à noite sonhasse comigo, talvez. 
Um lugar deve existir,
Uma espécie de bazar onde os sonhos extraviados vão parar... 
Entre escadas que fogem dos pés e relógios que rodam pra trás... 
Se eu pudesse encontrar meu amor não voltava jamais."
Chico Buarque - A moça do sonho

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sábado, 3 de março de 2012

Tudo que me toca, me fere;
Tudo que esqueço, me lembra;
Tudo que é teu, me convida;
E agora, já não sei...

Lílian

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E o poema todo se esfarrapa, fiapo por fiapo.


"Eu sonho com um poema
Cujas palavras sumarentas escorram
Como polpa de um fruto maduro em tua boca,
Um poema que te mate de amor
Antes mesmo que tu saibas o misterioso sentido:
Basta provares o seu gosto..."

Mário Quintana
Título:Adriana Calcanhotto

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sexta-feira, 2 de março de 2012

Triste é perder o que se tem na mão.

 Foto: Thierry Clech
"Eu o apertava nos braços, e no entanto parecia para mim que ele escorria vertiginosamente num abismo, sem que eu nada pudesse fazer para retê-lo."
Antoine de Saint Exupéry


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quinta-feira, 1 de março de 2012

Sem título.

 
Foto: Julie de Waroquier
Depois da tormenta, vem a calmaria.  
E eu posso encontrar no silêncio do meu interior, a paz escondida. 
E descubro que a felicidade que eu busco não está no outro, onde a projetei. 
Ela está entre mim e Deus, que se acha nas coisas simples. 
É na contemplação do simples que está a felicidade.

Lílian



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